MENINOS
DE TODAS AS CORES
Era uma vez um
menino branco chamado Miguel, que vivia numa terra de meninos brancos e dizia:
É bom ser branco
porque é branco o açúcar, tão doce,
porque é branco o leite, tão saboroso,
porque é branca a neve, tão linda.
Mas certo dia o
menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde todos os meninos
eram amarelos. Arranjou uma amiga chamada Flor de Lótus, que, como todos os
meninos amarelos, dizia:
É bom ser
amarelo
porque é amarelo
o Sol
e amarelo o
girassol
mais a areia da
praia.
O menino branco
meteu-se num barco para continuar a sua viagem e parou numa terra onde todos os
meninos são pretos. Fez-se amigo de um pequeno caçador chamado Lumumba que,
como os outros meninos pretos, dizia:
É bom ser preto
como a noite
preto como as
azeitonas
preto como as
estradas que nos levam para
toda a parte.
O menino branco
entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos os meninos são
vermelhos.
Escolheu para
brincar aos índios um menino chamado Pena de Águia. E o menino vermelho dizia:
É bom ser
vermelho
da cor das
fogueiras
da cor das
cerejas
e da cor do
sangue bem encarnado.
O menino branco
foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são castanhos. Aí fazia
corridas de camelo com um menino chamado Ali-Babá, que dizia:
É bom ser
castanho
como a terra do
chão
os troncos das
árvores
é tão bom ser
castanho como um chocolate.
Quando o menino
voltou à sua terra de meninos brancos, dizia:
É bom ser branco
como o açúcar
amarelo como o
Sol
preto como as
estradas
vermelho como as
fogueiras
castanho da cor
do chocolate.
Enquanto, na
escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos de meninos
brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as cores.
Luísa Ducla Soares